Ondas de calor: um desafio para a saúde física e psicológica da população

Ondas de calor: um desafio para a saúde física e psicológica da população

O calor excessivo pode aumentar os níveis de ansiedade, causar insolação e intoxicação alimentar, explicam especialistas

O ano de 2023 já é considerado o mais quente em 174 anos de medições meteorológicas, segundo relatório publicado no dia 30 de novembro pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). O documento é formulado com o apoio do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) que, por sua vez, apresenta dados igualmente preocupantes sobre o Brasil. Segundo o Inmet, 2023 é um dos anos mais quentes no Brasil, desde a década de 1960. 

A previsão para o verão 2023/2024 é de temperaturas ainda mais elevadas, variando entre 0,5° e 1,0° acima da média, principalmente no interior do norte e nordeste do país. Em dezembro e janeiro, as ondas de calor atingem seu pico, trazendo consigo não apenas temperaturas elevadas, mas também desafios significativos para a saúde mental da população. 

O calor excessivo pode contribuir para o estresse térmico, desidratação e exaustão, aumentando os níveis de ansiedade e irritabilidade. Além disso, as noites quentes podem interferir no sono, levando a distúrbios do sono e contribuindo para a fadiga mental. O psicólogo Wildson Barbosa, formado pelo curso de Psicologia da Unex, explica a interferência das altas temperaturas no funcionamento emocional da população: “O corpo, ao encontrar-se estressado entra em estado de defesa por conta das altas temperaturas, então passa a funcionar com um gasto de energia minimizado para manter o equilíbrio corporal físico e cognitivo. Neste sentido, corremos o risco de efetuar comportamentos que podem causar sérios prejuízos, como atuar profissionalmente com baixo nível de foco, atenção e concentração, o que poderá causar efeitos negativos em nossas atividades costumeiras”.

Idosos, crianças, pessoas com condições médicas pré-existentes e aquelas em situação de vulnerabilidade socioeconômica podem enfrentar desafios ainda maiores. Rafael Dórea, professor do curso de Enfermagem da Unex, lista uma série de problemas físicos que as altas temperaturas podem causar: “O corpo perde líquidos por meio da transpiração para resfriá-lo. A falta de reposição adequada de líquidos pode levar à desidratação, afetando a função dos órgãos e levando a complicações. Além disso, em temperaturas extremamente altas, há o risco de insolação devido à exposição prolongada ao sol, principalmente sem a proteção necessária. Isso pode levar a sintomas como confusão, tonturas, náuseas e até mesmo perda de consciência”. 

Algumas estratégias de enfrentamento incluem a conscientização sobre a importância da hidratação, o uso de roupas adequadas, a busca por ambientes frescos e a adaptação dos hábitos de autocuidado como: descanso adequado, evitar a exposição em horários mais quentes, a prática regular de exercícios sem sobrecarregar o corpo, a alimentação saudável e a busca de apoio emocional.

Segundo a professora do curso de Nutrição da Unex, Gabriela Madureira, a nutrição desempenha função muito importante na regulação do corpo e na manutenção da saúde: “É ideal ingerir líquidos e consumir alimentos leves, ricos em água, como frutas, saladas e vegetais para recuperar os eletrólitos perdidos, além de evitar alimentos pesados ou gordurosos, pois possuem uma digestão mais lenta”. A professora ainda enfatiza o cuidado com a preservação de alimentos perecíveis que podem se deteriorar mais rapidamente, evitando a contaminação e a intoxicação alimentar.

Com a previsão de anos cada vez mais quentes, é imprescindível reconhecer os impactos não apenas no corpo, mas também na saúde mental. Wildson conta a seguir como o trabalho dos psicólogos pode auxiliar a população no enfrentamento das consequências causadas pelas altas temperaturas: “A percepção é uma função psicológica elementar e é através dela que identificamos e processamos de forma primária os estímulos externos. Entendemos que tudo o que está ao nosso redor ou que afeta as nossas funções vitais, sejam elas físicas ou cognitivas, passam pelo cérebro”, disse. 

O psicólogo acrescenta ainda que a ciência psicológica oferta grande contribuição ao bom funcionamento intra e interpessoal: “Seja em níveis socioafetivos ou socioemocionais, através deste escopo científico, pode-se regular ou modular comportamentos, modos de pensamentos, lidar com as emoções e a criar um novo repertório para atingir objetivos pessoais”. O trabalho que cada área tem no diagnóstico de doenças e promoção à saúde é bem abrangente e visa acolher as demandas humanas de forma geral. Cada uma dessas especialidades pode fornecer orientações, desenvolver programas e promover estratégias para lidar com os desafios de saúde decorrentes das altas temperaturas.