Sala de Imprensa: Entenda o impacto do câncer nos pets e como prevenir
Professora do curso de Medicina Veterinária da Unex, Gisele Dias esclarece as principais dúvidas sobre o tema
No universo da saúde animal, o câncer se configura como uma das principais preocupações para tutores e profissionais veterinários. Para entender melhor essa realidade, conversamos com a Prof. Ms. Gisele Dias, docente do curso de Medicina Veterinária da Unex – Faculdade de Excelência de Itabuna, que nos conduziu por uma análise detalhada sobre o tema.
Segundo a especialista, as neoplasias cutâneas são as mais comuns entre os animais de estimação. Carcinomas, mastocitomas e melanomas estão entre as principais manifestações. Gisele ressalta que, embora a incidência dessas enfermidades esteja em ascensão tanto em cães quanto em gatos, os números tendem a ser mais expressivos nos cães, reflexo da predominância dessa espécie como animal de estimação no Brasil. De acordo com dados do Conselho Federal de Medicina Veterinária, 45% das cadelas e 30% das gatas poderão desenvolver câncer.
Os dados também mostram que 20% dos diagnósticos são tardios, o que dificulta o tratamento. Por isso, identificar precocemente os sinais de câncer é crucial para um tratamento eficaz. Gisele orienta os tutores a ficarem atentos a mudanças comportamentais e físicas, como redução da movimentação, perda de apetite e presença de nódulos ou feridas que demoram para cicatrizar. Dessa forma, a visita regular ao veterinário é fundamental, bem como a castração para evitar gestações indesejadas e a obesidade, que pode ser um fator predisponente para certos tipos de câncer.
Confira abaixo a entrevista completa:
Quais são os tipos mais comuns de câncer em animais de estimação? Existem diferenças significativas em termos de prevalência entre diferentes espécies ou raças?
As neoplasias mais frequentes em animais de estimação são as cutâneas, ou seja, aquelas que se desenvolvem na pele e/ou em seus anexos. Nesse sentido, os carcinomas têm grande importância, assim como mastocitomas e, eventualmente, melanomas. Observa-se de modo geral, uma tendência do aumento do aparecimento desse tipo de alteração, tanto em cães quanto em gatos, apesar disso, o número tende a ser maior em cães, o que pode ser associado à predominância dessa espécie como animal de estimação no Brasil.
É verdade que o câncer é considerado a principal causa de morte entre os pets?
Embora as neoplasias sejam afecções de grande relevância na Medicina Veterinária, não são consideradas, até o momento, como a principal causa de óbitos de animais. As doenças infecciosas, sejam elas bacterianas, virais, fúngicas, parasitárias ou provocadas por protozoários, apresentam maior impacto nesse sentido e são responsáveis pela maioria dos óbitos de cães e gatos no Brasil, o que se observa em estudos epidemiológicos desenvolvidos nas diferentes regiões do país.
Quais são os sinais e sintomas mais comuns que os tutores devem estar atentos para identificar precocemente o câncer em seus animais de estimação?
Existem diversas classificações e formas de apresentação de neoplasias na Medicina Veterinária, o que faz com que os sinais apresentados pelos animais sejam variáveis. De modo geral, é importante estar atento a mudanças comportamentais como redução da movimentação, redução do apetite, menor atividade, perda de peso e afins. Além disso, é importante procurar auxílio profissional em situações de aparecimento de aumentos de volume em qualquer região do corpo dos animais, como nódulos, pequenos tumores, ou ainda, feridas que demoram para cicatrizar. Destaca-se ainda que a avaliação periódica dos animais pelo Médico Veterinário é indispensável para o acompanhamento e manutenção do seu estado de saúde.
Como é feito o diagnóstico de câncer em animais? Existem exames específicos ou procedimentos que os veterinários realizam para confirmar a presença da doença?
O diagnóstico é feito por meio de um conjunto de técnicas e se inicia com a consideração do histórico clínico dos animais e as alterações relatadas pelo tutor. Na sequência, a região afetada é submetida à avaliação física e depois a exames específicos como citologia e/ou exame histopatológico, quando possível. Esses exames são capazes de detectar possíveis células neoplasias e, frequentemente, permitem a definição do tipo de neoplasia apresentada. Além disso, é necessário realizar exames de imagem como radiografia e ultrassonografia para identificar outros possíveis focos de neoplasia no paciente.
Qual é a abordagem típica de tratamento para animais diagnosticados com câncer? Existem opções de tratamento diferentes dependendo do tipo e estágio do câncer?
O tipo de tratamento varia de acordo com o tipo de neoplasia, estágio e idade do animal. Sempre que possível, a cirurgia para remoção da neoplasia é o primeiro passo do protocolo, seguido de quimioterapia. Em alguns casos, não é possível realizar o procedimento cirúrgico, então pode-se lançar mão da quimioterapia individualmente e, em casos mais severos e em animais idosos, por exemplo, pode não ser possível adotar técnicas como as citadas devido à invasividade e efeitos colaterais. Nesses casos, opta-se por cuidados paliativos que sejam capazes de promover conforto e bem-estar ao animal.
Além do tratamento convencional, existem medidas preventivas que os tutores podem tomar para ajudar a reduzir o risco de câncer em seus animais de estimação? Quais são algumas dessas medidas?
O acompanhamento regular pelo Médico Veterinário é uma importante medida de monitoramento deste tipo de alteração. Além disso, existem fatores predisponentes para algumas neoplasias como o uso de anticoncepcionais e obesidade, desse modo, deve-se evitar o uso desses produtos para impedir as gestações, sendo a castração a técnica mais indicada para isso. Quanto à obesidade, tem-se que o manejo nutricional do animal deve ser adequado às suas necessidades, bem como, a atividade física exerce importante influência nesse sentido.
Como os avanços na medicina veterinária têm impactado o diagnóstico e tratamento do câncer em animais nos últimos anos? Existem novas terapias ou tecnologias que estão se tornando mais comuns na prática veterinária?
Nos últimos anos tem-se maior precisão das técnicas diagnósticas disponíveis, assim como maior quantidade de técnicas que podem ser aplicadas, como PCR, imunohistoquímica, ressonância magnética, entre outros, o que otimiza o tempo de descoberta e aumenta a precisão do diagnóstico. Além disso, estudos apontam a possibilidade de aplicação de técnicas inovadoras no tratamento dessas alterações, como terapia fotodinâmica (utilizando laser) e uso de células tronco. Para maior confiabilidade e reprodutibilidade desses procedimentos novos estudos estão em desenvolvimento.