Presença feminina na ciência cresce e inspira novas gerações

A participação das mulheres na ciência brasileira tem crescido significativamente nos últimos anos. De acordo com um relatório da Elsevier-Bori, lançado no ano passado, o número de autoras em publicações científicas aumentou 29% nas últimas duas décadas. No entanto, os dados também revelam um desafio: à medida que a carreira avança, a presença feminina na pesquisa diminui.
O estudo, intitulado Em direção à equidade de gênero na pesquisa no Brasil, apontou que, em 2022, 49% da produção científica brasileira teve pelo menos uma mulher entre os autores, um avanço em relação aos 38% registrados em 2002. Com isso, o Brasil ocupa a terceira posição entre os países com maior participação feminina na ciência, ficando atrás apenas da Argentina e de Portugal, que possuem 52% de publicações científicas com autoras mulheres.
A coordenadora do curso de Nutrição da Faculdade UniFTC de Juazeiro, Sibery Barros, atua na pesquisa científica há alguns anos. Ela lidera o projeto Sistema Agroalimentar Sustentável: Educação Alimentar e Nutricional nas redes de comercialização para fidelização do consumidor. Segundo ela, conciliar a vida acadêmica com a vida pessoal é um dos principais desafios enfrentados pelas mulheres cientistas.
“Além de orientar o projeto de iniciação científica na UniFTC, sou doutoranda no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Territorial e Agroecologia. O maior desafio é conciliar a carreira acadêmica com a vida pessoal. Durante o mestrado, enfrentei dificuldades quando minha filha nasceu, pois o programa não concedeu minha licença-maternidade, mesmo diante de problemas de saúde que ela teve ao nascer. Precisei recorrer à Justiça para garantir meu direito e, assim, consegui obter a licença e defender minha dissertação no prazo”, relata a docente. “Já ouvi de um docente do programa de doutorado que ‘família não é prioridade’. Essa afirmação veio após a exigência de uma reunião presencial durante o período de férias acadêmicas e profissionais, quando eu estava viajando com minha família”, acrescenta.
O relatório da Elsevier-Bori também indica que a participação feminina na ciência é mais expressiva entre as pesquisadoras em início de carreira. Entre 2018 e 2022, 51% das publicações científicas no Brasil contavam com mulheres com até cinco anos de experiência. No entanto, essa participação cai para 36% entre pesquisadores com mais de 21 anos de carreira. “A legislação trabalhista e previdenciária não protege os pesquisadores acadêmicos, o que impacta diretamente a trajetória profissional das mulheres na ciência”, pontua Sibery.
Outro exemplo de liderança feminina na pesquisa é a professora Edla Carvalho, do curso de Odontologia da Unex – Centro Universitário de Excelência de Feira de Santana. Ela coordena o projeto de pesquisa e extensão Infância Sem Trauma, voltado para a capacitação em trauma odontológico e o desenvolvimento de graduandos na área científica. “Ser mulher na ciência é enfrentar desafios diários, especialmente ao conciliar múltiplas responsabilidades”, reforça Edla. Ela também percebe um interesse crescente das alunas pela pesquisa científica, o que pode estar relacionado ao aumento da presença feminina no curso de Odontologia. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres representam 70% da força de trabalho na área da saúde, refletindo essa tendência.

A estudante Elaine Cerqueira, do 9º semestre de Odontologia, integra o projeto Infância Sem Trauma e destaca as oportunidades que encontrou no programa: “Tenho a chance de promover palestras, realizar estudos aprovados pelo Comitê de Ética, participar de eventos científicos e interagir com profissionais que são importantes para minha formação”, compartilha. Como parte da nova geração de pesquisadoras, Elaine acredita que a representatividade feminina na ciência é fundamental. “Nós desempenhamos papéis essenciais na pesquisa, na inovação e na melhoria da saúde. Apesar dos avanços, ainda existem muitos desafios estruturais e culturais que dificultam a inserção das mulheres na ciência. Espero que esse cenário mude e que, no futuro, possamos ver ainda mais mulheres ocupando espaços no meio científico”, conclui.